"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Serra da Estrela, Portugal

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
                                  José Saramago


Cada vez mais apaixonado por Portugal!

No caso do mototurismo, isso aqui é um verdadeiro parque de diversões... As estradas perfeitas, asfalto liso, pouco movimento, paisagens de tirar o fôlego, monumentos de centenas e até milhares de anos a cada curva, e a hospitalidade dos portugueses que é outra coisa muito especial.

Acho que para quem é europeu e já está acostumado fica difícil de entender minha fascinação em visitar locais que tem tantos anos de história. No Brasil, nossa história é de apenas 500 anos, pouca coisa preservada, e ultimamente muitas sendo queimadas pela incompetência do Estado, triste !

Dessa vez fui sozinho, a Giorgia correu da brincadeira, azar o dela. Inicialmente iria motocar na segunda e terça, mas vi que tinha uma previsão de chuva na serra na segunda, então por isso saí na terça, e acertei, não peguei nehuma gota e na segunda caiu mesmo um temporal rápido na serra.
Fui as 9h na Northroad para pegar a moto, atendido pelo Manuel, um dos sócios e pela Antonieta, como sempre muito gentis. Escolhi de novo uma BMW F700GS, velha conhecida, em 2016 também aluguei uma. Me desculpem os fans da Royal Enfield (moto que aluguei uma semana antes), mas não dá nem para comparar as motos, outra vida, outra tocada, segura e confortável.


De porto ao topo da Serra, na Torre, são 195km. O primeiro trecho na A1 e A25, devo ter feito uns 150km nessas autoestradas, então rendeu muito bem. Como tenho andado no limite da pista (nas A é de 120 km/h) a moto fez em toda a viagem uma média de 26km/l, bom demais né.



Chegando na cidade de Seia inicia a subida maior, já passando dos 600m de altitude. A paisagem vai mudando, os montes maiores, formações rochosas diferentes, muito lindo mesmo.

Em 2016 passei de carro com a Milene pela serra e não enxergava 10m a frente de tanta cerração, e agora, tudo isso as minhas vistas.


hoje a estrela é Ela, BMW F700GS 




Barragem Marques da Silva

quase...


A formações rochosas são um show a parte ! Granitos são os que mais chamam atenção, formam castelos naturais, imponentes. Muitas lagoas glaciares também.



A Torre é o ponto de maior altitude da Serra da Estrela e também de Portugal Continental, 1993m, e o segundo mais elevado de Portugal (apenas a Montanha do Pico, nos Açores, tem maior altitude, com 2351 metros).


Segui passando pelos chamados Circos Glaciários, formações fantásticas. Nesse ponto a temperatura eram de agradáveis 13 graus.


Monumento a Nossa Senhora da Boa Estrela




Chegando em Manteigas, que fica bem ao centro do serra, fui procurar um restaurante para almoçar. Roda daqui, roda dali e acabei parando coincidentemente no mesmo restaurante que em 2016 almocei com a Milene, mas agora com nova administração.


Pedi um bacalhau com crosta de biju, mas quando veio foi um Naco com queijo da Serra, falei que não precisava trocar, pois estava mesmo de olho nesse prato. Muito gostoso, bem feito, carne suculenta e no ponto, recomendo. Quando estava na moto fui abordado pelo integrante do Grupo Motard Manteigas, me convidou para ir tomar um café na sede, peço desculpas a ele pois acabei me atrasando e partir sem passar por lá.


Desci em direção ao leste, sentido Espanha, para a cidade de Belmonte, onde nasceu Pedro Álvares Cabral em 1467, descobridor do nosso Brasil.
No caminho mais uma das pontes Romanas, essa eu já tinha fotografado em 2016.


Me sentindo um cavaleiro templário montado em seu cavalo a procura de castelos, lá fui eu atrás de mais um...

Castelo do Alcaide Cabral em cima do belo monte (Belmonte)

O alcaide era o governador de um cidade ou vila acastelada ou fortificada, durante a Idade Média, na Península Ibérica. A denominação derivou, contudo, do árabe, pois na altura da presença muçulmana conheciam-se como alcaides os governadores de províncias ou de praças.


Edificado no século XIII e depois passado ao alcaide Cabral por volta de 1400, ali nasceu Pedro Álvares Cabral.




   


   


E segue a busca... fui para a visinha Sortelha, e lá uma fortificação  gigantesca, imponente, o Castelo de Sortelha, também do século XIII.


Acredito que sua estrutura impressionantemente grande deva ser pela proximidade da fronteira com a Espanha, assim era caminho de entrada para Portugal. Esse castelo passou por várias guerras, inclusive as napoleônicas.

    


o Antigo e o Novo...


Mais a frente, um castelo me encontrou no caminho, este não estava mapeado. Castelo de Sabugal, também, chamado de Castelo das Cinco Quinas, Séc XIII. Ficou só com uma foto de longe.


Quando pensei no roteiro uma ideia seria dormir em Belmonte, que era a metade do trajeto, mas no segundo dia iria fazer o contorno do Rio Douro e sabia que ia demorar pois é bem mais travada a estrada, muitas curvas e vilas. Então decidi ir fazendo minhas visitas até perto do final da tarde.
Quando cheguei em Pinhel já era 18h e fui então procurar um hotel.
Hotel? não tem... No booking uma única opção de pousada, ok fui para lá, toquei a campanhia e nada... e agora ?

Parei em uma tasca e fui falar com o dono ele me comentou que não tinha mesmo hotel, e tinha só uma hospedagem boa, a Alecrim e Rosmaninho, a mesma que tentei. Comentei que já tinha tentado lá e ele me pediu pra falar com uma senhora que estava lá fora, a Dulce, amiga da proprietária que logo já ligou pra ela.

Resolvido! Como o Roberto Tadeu, meu grande amigo, sempre diz: God is good for us. O que começou com um estresse acabou em uma das melhores experiências que poderia ter.
Fui recebido pelo casal Ema e Carlos, proprietários. Ela já morou no Brasil muitos anos, ele experiente do setor de restaurante, me receberam como um velho amigo. A pousada é muito grande, linda, novinha, tudo do melhor (toalhas grossas e macias, roupa de cama de qualidade superior, cama gigante, tv a cabo, chuveiro forte e bem quente...)

horta da pousada, de tudo e perfeito !

 
Depois de tomar um bom banho e descansar uns minutos, desci até o bar/restaurante anexo que o Carlos administra.  Pedi o que ele podia preparar para comer, o que fosse mais prático pra ele. E o que aconteceu foi que me convidaram para jantar com eles e uma amiga, a Dulce, a que me conseguiu o contato, que demais !


Sopa de arroz com "feijão verde" (vagem), salada de tomates e pepinos, tudo da horta. Prego com ovo, mas de porco, e para acompanhar vinhos, um deles um vinho local da década de 80 que estava uma delícia. Ah, teve uma novidade gastronômica para mim, o doce de tomate feito pela Ema, delicioso !
Obrigado pela noite queridos, certamente irei voltar em outra oportunidade. Um abraço também ao André, que se juntou a nós no jantar.

  

Acordei mais cedo que o previsto, normal nas minhas viagens, ansiedade sempre faz isso. 8h30 tomei um café preto e fui até o Castelo de Pinhel, já sabendo que estaria fechado para a visitação interna.

A cidade medieval é murada, ao entrar e subir pelas belíssimas ruas, que te remetem a centenas de anos ao passado, você chega até a torre de menagem (Torre fortificada que era o último refúgio da fortaleza, normalmente ao centro). Esse castelo também é do séc XIII, por volta de 1210 dc.


Ao lado outra torre de menor tamanho e os muros da fortaleza.

  

As estradas, ah, as estradas... cada curva um suspiro. Dá uma olhada nessa foto abaixo (lembre que pode clicar e ver ampliada a foto), a variedade: abóboras, oliveiras, couves, macieiras, pêssegos...


Meu próximo destino era a Torre de Ucanha, mas no caminho estava Trancoso, e mais um lindo castelo.


Adentrando pela porta das muralhas tem a cidade.



Mais uns quilômetros e aí sim, a Torre de Ucanha e a ponte fortificada.


A torre é do século XII, a ponte acreditam ter sido construída pelos romanos, no seguimento de uma estrada que passava ali perto (passa, ainda está lá uma parte dela). Os monges do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas ali perto usavam como fonte de rendimento pelo  direitos de portagem que seriam cobrados.


Eu tinha uma expectativa grande com Lamego, mas confesso que me decepcionei. A cidade é bonita, mas muito grande já para esse meu tipo de roteiro. Merece certamente uma visita com mais calma.


A foto da Igreja do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios ficou horrível, tinha um caminhão no meio da praça, montando palanque de show, atrapalhando tudo.


O Castelo não consegui acessar de moto, pelo que entendi só pode subir por vias de pedestres, então deixei assim e fui embora.


Lamego está a cerca de 650m de altitude, a vista é muito linda da região.


Nem 10km abaixo já se encontra a N222, uma famosa estrada de Portugal. Tem um trecho que foi considerado um dos mais lindos do mundo por uma agência britânica, mas é o trecho entre Peso da Régua e Pinhão, direção oposta a minha, então deixei para fazer em outra oportunidade. Segui a N222 e depois a N108 que vão acompanhando o percurso do Rio Douro, muito linda as paisagens.







Na localidade de Entre-os-rios parei para um almoço, simples mas bem gostoso. Foi peixe com purê de batata. Depois um cafezinho para alegrar a alma.


Cheguei em Porto umas 15h, entreguei a moto e fui encontrar com minha filha e curtir o final do domingo.

Assim terminei meus passeios de moto por Portugal esse ano, mas ficou muita coisa por visitar, então claro que vai ter mais.


600km



Não deixe de conferir o outro passeio que fiz nesse mês em Potugal, para a região de Trás-os-montes e um pouquinho da Espanha. Clique aqui