"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Atacama - Soy Loco por Ti América


Depois de ler o relato aproveite o vídeo!

O mais complicado de narrar essa aventura será encontrar palavras para explicar o turbilhão de sensações que tivemos em todo o tempo. Por isso não se aborreçam em ler várias vezes as palavras sensacional, maravilhosa, surreal...

Pietro e Milene (Suzuki Boulevard C1500) - Blumenau SC
André (Suzuki Boulevard M800) - Blumenau SC
José e Cecília (Suzuki Vstrom DL650) - Juiz de Fora MG
Roberto (Suzuki Boulevard M800) - Peruíbe SC

SEXTA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2010
Blumenau – Chapecó
480km

6a feira, 15h... depois da correria no escritório, finalmente saímos (André Bnu, Pietro e Milene) na estrada, rumo ao oeste catarinense, até Chapecó.
Saímos mais tarde do que o combinado. Sol, calor, nuvens crescendo, uma tempestade? Não, subimos a serra, as preocupações do escritório devagar ficando pra trás, o céu limpando.





O Intercomunicador Cardo Team Set é muito bom, a bateria dura mais de 14h quando usado somente para comunicação. O capacete Zeus da Milene não ajuda pois é muito barulhento, coisa que resolvemos no Chile comprando um novo muito mais barato do que aqui do Brasil. Para ouvir MP3 ajuda para despistar o sono das estradas, mas em velocidade maior pouco de houve devido ao vento, mesmo com o capacete shark. O celular reserva usado como MP3 pela Milene, resolveu sair pulando pela estrada, foi salvo pelo Bnu que viu ele se partir em três na estrada. Acredite ele ainda esta funcionando, Nokia é Nokia.

A tarde quente tornou-se um anoitecer laranja e azul, e depois um imenso céu estrelado, o ar frio da noite até a chegada a Chapecó, após as 21h. Recepcionados pelos Bogs Xap e Marborge e suas esposas, no trevo de acesso a cidade, seguimos para o centro, jantar excelente, galeto e massas, BOG gastronômico, só faltou foto dos pratos ;)



SÁBADO, 27 DE NOVEMBRO DE 2010
Chapecó - Corrientes
850km – 13h

Saímos as 8h de Chapecó "escoltados" pelos amigos BOGs até a fronteira, com um trajeto muito bonito. Tudo tranqüilo e rápido na aduana de Dionísio Cerqueira com Bernardo de Iriguayen. Fizemos cambio na cidade e depois tocamos até Corrientes, onde chegamos pelas 20h.

Pietro, Milene, André, Luiz e Marcelo

Muito calor, estimamos que em alguns trechos, nas paradas, deveria estar perto dos 40 graus.  Num posto nos chamaram para ver a minha, pois vazava muito combustível, uma poça, achamos que tinha estourado algum cano. Graças, foi apenas combustível que transbordou pelo suspiro pois a moto estava em alta temperatura por causa do calor intenso, deve ter expandido e feito pressão ate vazar. Ufa !!!

Almoçamos em Eldorado num restaurante de aparência suspeita, dono grosso como porta de opala, mas que surpreendeu pela comida.






Na seqüência fomos em direção a Posadas, muito interessante. Na ida vimos obras na estrada, achamos que estavam em processo de duplicação, mas na volta descobrimos que o problema é que a pista antiga é totalmente inundada na época de chuvas.

Como chegamos cansados acabamos pegando um hotel que estava mais próximo, uma construção de 1800 toda reformada, muito legal, de alto padrão, principalmente pelo valor, mas sem acesso a internet pelo note, uma constante na viagem.


Igreja São Francisco, 1800


Fizemos 850km nesse dia, um dos mais cansativos, não pela distância, mas principalmente pelo calor.

DOMINGO, 28 DE NOVEMBRO DE 2010
Corrientes - San Salvador de Jujuy
860km – 11h

Na saída de Corrientes passamos pelos 1700m da ponte Gal Belgrano que liga Corrientes a Resistência (capital da província do Chaco), imponente.



Retas, retas e retas, se resumi esse trajeto. 600km de uma grande reta, com apenas uma curva acentuada.  Não é por nada que o pneu da moto voltou quadrado. Em alguns trechos pegamos bastante vento lateral, que deixou o pescoço dolorido.

Plantações de girassóis mudam o cenário em determinado trecho, mas na maior parte a vegetação, a estrada e tudo o mais é soniferamente igual.


O dia estava nublado, sem chuva, muito agradável. Pegamos uma garoa fina e frio, cerca de 150km do final, nada de mais. Chegamos em Jujuy as 19h, nos seus 2mil m de altitude.

Até então não tivemos nenhum problema em relação a postos de gasolina, mas sempre é bom ficar atento, pois se perder um deles pode se complicar com a autonomia das motos. Os postos costumam ficar longe um dos outros, muitas vezes mais de 100km de distância.

Por toda a estrada vimos pequenos altares, geralmente de cor vermelha, mas nem todos. Depois ficamos sabendo que todos são em homenagem a Gauchito Gil.

Segundo a lenda conta  que Gauchito Gil foi um desertor de Guerra e quando capturado disse ao seu algoz antes de morrer: “Seu filho está muito doente, quando eu morrer reze por minha alma que salvarei a vida de seu filho”. O soldado descobriu que seu filho estava muito doente, assustado rezou por Gauchito, o filho se curou. O soldado voltou e deu um enterro descente e construiu um pequeno altar em sua homenagem. Hoje se encontram esses altares por toda a estrada.

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2010
San Salvador de Jujuy – San Pedro de Atacama
490KM

Feliz aniversário para mim !!! Não poderia ser melhor a comemoração, nesse que foi um dos dias mais esperados da viagem, pois no trajeto estava o Paso de Jama.

Saímos com uma neblina densa e frio, que foi se desfazendo numa das paisagens mais belas da viagem, os paredões coloridos, com suas sete cores perto da cidade de Purmamarca.  Destaque também para os Cardones (cactos).










Não é efeito nenhum, realmente são multi coloridas !

Seguimos  aos altiplanos dos Andes onde passamos os primeiros "caracoles", fantásticos.










Chegamos nesse trajeto perto dos 4200m de altitude, e a sensação não é nada agradável, tontura, enjôo, dor de cabeça. Para amenizar mascamos as folhas de coca, que deram resultado. O gosto lembra erva de chimarrão.

Passamos as primeiras cadeias de montanhas, ou a pré-cordilheira como é conhecida. Na descida para o altiplano avistamos o Salar Grande, fantásticamente branco e imenso.


Salar Grande ao fundo





No caminho muitos animais soltos pela pista, lhamas, vicunhas, jegues etc. Aqui um susto, em uma curva, uma lhama desceu o morro e veio diretamente em direção a minha moto. Freei e ela muito ágil retrocedeu, nenhum impacto, ufa! Isso foi gravado pela câmera de capacete do André.


Paramos no meio salar numa usina, onde também tem alguns trabalhos de artesanato para venda. Os trabalhadores se protegem por completo do sol e do reflexo dele no sal, figuras pitorescas. A casa no meio das salinas também era inteiramente feita de sal. Vale lembrar que a umidade lá é baixíssima, então o sal está sempre seco. Eu troxe uma lembrança de lá que em Blumenau derreteu totalmente com a umidade da cidade (90%). O sal se cristaliza em hexágonos e é só raspar o chão para ter a mão cheia de sal. Interessante é que o sal tem um sabor todo especial, talvez seja somente a impressão causada pelo exótico lugar.





Em Susques, última cidade do lado argentino paramos no último posto antes do Paso, onde abastecemos com uma gasolina péssima e, aproveitamos para comer as primeiras e maravilhosas empadas e sanduwiches tipo argentinos, milanesa é o melhor deles.






Nesse momento a temperatura era acima dos 30 graus, céu absolutamente azul e clima muito seco.

Passamos pela aduana Argentina sem problemas e partimos em direção á fronteira, que ficava a poucos quilômetros dali. Entrando no Chile, a aduana chilena ficava depois do Paso de Jama, uns 180 km depois.



As paisagens são surreais, algo inexplicável. A temperatura foi caindo, chegando a 8 graus, mas depois de muitos quilômetros a sensação térmica é negativa, pois a altitude foi aumentando, chegamos a 4805m de altitude.



Já perto de San Pedro de Atacama, num "tobogã" de 50km vem a decida, a temperatura começa a elevar bruscamente, e ao fundo o vulcão Licancabur, um vulcão futuro, que ainda entrará em erupção.




Chegando a San Pedro e à aduana chilena, resolvemos os trâmites de nossa entrada no Chile e das motos, e fomos a caminho do hotel.



Centro de San Pedro do Atacama, ruas de terra.

Lá nos encontramos com os demais amigos da viagem, José e Cecília (casal Stardust) e Roberto Tadeu. A noite um maravilhoso jantar para comemorar meus 38 anos na companhia dos amigos, e depois uma merecida cama !


TERÇA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2010
San Pedro de Atacama - Copiapó
775 km

O que vimos aqui ninguém deveria deixar de ver uma vez na vida, é intenso, as vezes inacreditável, surreal... O Atacama é assim !!!


O Atacama estende-se por mil quilômetros do norte do Chile até a fronteira com o Peru e cobre uma superfície de 106 mil km2 (maior que o estado de SC), grande parte dos quais formados por deserto arenoso e rochoso. É considerado o deserto mais alto e mais árido do mundo pois as cordilheiras e sua altitude impedem a chegada das nuvens. Já foi registrado 400 anos sem indícios de chuvas, apesar de nevar no alto dos grandes cumes. A temperatura varia de negativos 20 graus a noite até 40 graus positivos durante o dia. A umidade é baixíssima, e conserva tudo por muito tempo, inclusive múmias. É um dos principais pontos de observação astronômico mundial, inclusive da Nasa.

Foram muitos quilômetros de retas com um visual árido que muda durante o percurso, terra,  areia, pedras, quase sempre sem absolutamente nenhum arbusto. De quando em quando uma vila abandonada, que conservada pela baixa umidade parece que  ainda são habitadas.



Uma coisa que desagradou é a grande quantidade de pneus de caminhões ao lado da estrada que ficam lá jogados, uma pena, quebra um pouco a beleza inóspita do lugar.

Uma situação engraçada foi no meio do deserto, em uma grande reta, cruzarmos um caminhão da Coca-Cola.

Em Antofagasta, próximo do Oceano Pacífico, fizemos uma parada na Mão do Deserto, do artista chileno Mario Irarrázabal. Alguns de nós já tinham visitado a outra escultura de mão do artista, que fica no Oceano Atlântico.


Aqui nesse ponto, apesar de não entrarmos na cidade e ver o litoral, a estrada passa a cerca de 30km da praia, pudemos comemorar que atravessamos o continente de leste a oeste, do Atlântico ao Pacífico, 2200km de uma costa a outra!

Em Chañaral o deserto entra no mar, muito legal. A paisagem muda radicalmente, pois de um lado temos o deserto, com a cordilheira seca com poucos arbustos, e do outro lado o mar. Duas grandes forças da natureza se encontrando.






O dia foi muito cansativo, todos esgotados na chegada em Copiapó, o hotel muito bom, Diego de Almeida. A cidade surpreendeu, pois é grande e moderna.

QUARTA-FEIRA, 01 DE DEZEMBRO DE 2010
Copiapó – Viña Del Mar
780 km

Deixamos o deserto para trás, agora temos de volta a umidade e o verde nos acompanhando. Como estávamos mais perto do centro do Chile que é a região mais moderna e habitada, os postos melhoraram consideravelmente.

Passamos por uma grande usina heólica e que não é a única por lá.



Chegamos na linda Viña Del Mar bem no horário do pôr do sol, pelas 20h. Resolvemos ficar os dois outros dias em Viña mesmo, e dali ir a Santiago e arredores passear.






14 anos antes, eu e a Mi passávamos nossa lua de mel aqui, foi legal relembrar e reavivar essas lembranças.


QUINTA-FEIRA, 02 DE DEZEMBRO DE 2010
Viña Del Mar – Valparaíso - Algarrobo - Viña Del Mar
150 km

Acordamos um pouco mais tarde nesse dia e depois de um café da manhã padrão argentino fomos passear em Valparaíso e Algarrobo.


Valparaíso é uma cidade de colonização espanhola, que data de 1536. A Área Histórica de Valparaíso foi declarada como Patrimônio Cultural da Humanidade, também é a sede do Poder Legislativo da República do Chile, do Comando da Armada de Chile, o Serviço Nacional de Aduanas e o Conselho Nacional da Cultura e das Artes.

A arquitetura é muito pitoresca, algumas casas ficam literalmente penduradas.



Aproveitamos para andar num dos 15 ascensores, espécie de Funicular, porque devido à inclinação dos morros, os transportes coletivos não chegam as partes mais altas da cidade. Interessante é que eles são muito antigos, datam de meados de 1900. Dali fomos visitar uma das casas onde morou o prêmio Nobel Pablo Neruda. Finalizando o passeio nessa simpática cidade fizemos um dos melhores almoços num restaurante com vista para o mar onde saboreamos peixes e frutos do mar.










Pegamos as motos e saímos em direção a Algaborro, para conhecer a maior piscina ao ar livre do mundo, fica no resort San Alfonso Del Mar, no Chile. Com 1 km de extensão e 80 mil m² ela é reconhecida pelo Guinness Book, o livro dos recordes. A piscina tem capacidade para 250 mil m³ de água, ou seja, o equivalente a 6 mil piscinas normais de quintal. Tido isso em local muito lindo e de alto padrão.




SEXTA-FEIRA, 03 DE DEZEMBRO DE 2010
Viña Del Mar – Santiago - Viña Del Mar
270 km

Aproveitando que tínhamos que levar as motos para fazer a revisão, troca de óleo etc fomos até Santiago. Cidade moderna, com ar europeu. A variedade de carros importados chama atenção, e isso se deve ao fato que o Chile não tem nenhuma indústria, nem montadora de automóveis, assim o governo isentou o imposto de importação. Uma beleza os carros por lá !


Almoçamos no Parque Arauco, shopping muito agradável, comemos uma massa fantástica. Depois fomos fazer umas compras de acessórios de motos, lá os preços são realmente convidativos.

SÁBADO, 04 DE DEZEMBRO DE 2010
Viña Del Mar - Mendoza
400 km

Esse era outro dos dias mais esperado, a segunda passagem pelos Andes, agora pelo Passo Los Libertadores, túnel Cristo Redentor. Esse passo fica a 3175m de altitude e atravessa os Andes por um túnel de 3km de comprimento.









Também foi um dos mais cansativos trajetos, pois ainda se encontra em obras. A pista de concreto é bem demorada de construir e a obra já se estende por mais de ano. Muito rípio, caminhões hostis... Por ser subida em baixíssima velocidade, no rípio a condução se torna extremamente exaustiva, ainda mais com roupa de frio.

Mas tudo isso valeu a pena, pois depois de transpor esse trecho e de fazer os tramites da fronteira o que nos esperava a frente era o Aconcágua, e depois ainda outras muitas emoções!






O monte Aconcagua - Sentinela de Pedra - tem 6.962 metros de altitude, e é simultaneamente o ponto mais alto das Américas, de todo o Hemisfério Sul e o mais alto fora da Ásia. Fica localizado nos Andes argentinos, a cerca de 112 km de Mendoza. Está localizado no Parque Provincial Aconcágua, cuja entrada fica próxima ao povoado de Puente del Inca.

O parque é o ponto de partida de diversos corajosos que se aventuram em escalar o Sentinela. O belo e gelado lago de Horcones faz um contraste fantástico com o cume do Aconcagua ao fundo. Devido a altitude, a Milene, o José e o Roberto ficaram na parte baixa do parque. Eu, André e Cecília nos aventuramos até a parte alta do Lago. Valeu a pena !

Fácil de entender por que vários se arriscam em escalar esse lugar, chega a ser hipnotizante !


El Puente del Inca é uma formação rochosa natural sobre o rio Las Cuevas, sob ela foi construído um hotel termal, que em 1965 foi completamente destruído devido a desbarrancamentos das cordilheiras. Ele permanece lá, fazendo um visual muito interessante. São cinco fontes termais com temperatura da água por volta de 33graus e cheia de minérios, sendo assim curativas.


Depois do Aconcágua, a descida pra Uspallata, passando pelo belíssimo Lago em Potrerillos, sentido Mendoza, a temperatura subindo, as montanhas sendo substituídas pelo horizonte plano. Fomos acompanhando o curso do rio Mendoza.










Chegada em Mendoza

DOMINGO e SEGUNDA-FEIRA, 5 e 6 DE DEZEMBRO DE 2010
Mendoza

Colonizada em 1561, por Pedro de Castillo, Mendoza está situada numa região semi-desértica, sendo que a água só é encontrada nos oásis, onde os rios que descem dos cumes dos Andes derramam suas turbulentas correntes de água. Por toda a cidade se encontram canais que irrigam as árvores, o que faz a cidade ser um verdadeiro Oásis, com praticamente todas as ruas muito arborizadas. Diga-se de passagem que um perigo esses enormes canais no meio das calçadas. Esses canais também irrigam as diversas fazendas da região.


Clima árido e continental, as temperaturas apresentam uma grande oscilação anual e as precipitações são escassas, mas as chuvas de granizo bastante comuns. O verão é quente e úmido, com temperatura média girando em torno de 25°C, e é a época mais chuvosa do ano. O inverno é frio e seco, com temperatura média abaixo dos 10°C, geadas noturnas ocasionais e escassas precipitações. A ocorrência de neve e chuva com neve não são raras.

Bons restaurantes e cafés são comuns nos calçadões. A cidade foi planejada e possui várias praças dispostas simetricamente no centro.


No dia 06 pela manhã a Milene pegou o avião de volta para Blumenau, pois tinha outros compromissos. A guerreira fez 5000km de estrada e 10 dias de viagem, nada mal para sua primeira grande viagem. Eu fiquei com cara de cachorro abandonado pelo dono durante o restante da viagem, mas faz parte.

Roberto foi procurar alguma oficina que fizesse uma solda em um dos suportes dos alforjes que se rompeu na viagem, e nós fomos fazer um passeio para conhecer uma Olivícola e duas Vinícolas. Fechamos um pacote com uma agencia que nos levou de van para o passeio, só nós, particular, custou 120 pesos por pessoa se não me engano, mais o almoço que foi 90 pesos.

Primeiro visitamos a Olivícola Laur, que passa de mãos em mãos desde 1906. Uma curiosidade que aprendemos que as oliveiras produzem plenamente com cerca de 20 anos e depois produzem por 400 anos... a longevidade das oliveiras é absurda,  estima-se que algumas da Palestina nos dias atuais devam ter mais de 2500 anos de idade.




Após uma degustação de azeitonas e azeite de oliva, seguimos para a primeira das fantásticas vínicolas, a Belasco de Baquedano.


Na Argentina praticamente só se produz vinhos de uva Malbec. Malbec é o nome de uma variedade de uma casta de uva originária na  França, usada na fabricação de vinhos tintos. O plantio do Malbec vem se incrementando bastante na Argentina, onde as uvas têm sido usadas na fabricação do vinho Malbec argentino, considerado o melhor do mundo. As características do Malbec mudam bastante, dependendo do clima e do solo em que se cultive. Em Mendoza, o vinho tem sabor agradável, com corpo médio e intensa cor púrpura, com textura vigorosa e um paladar levemente rústico.


O lugar é lindo, com o parreiral com vista aos Andes, uma edificação exuberante pelo tamanho, mas harmoniosa na arquitetura. Depois da visita e apresentação fomos conhecer a única sala de aromas da América latina. Trata-se de uma sala que tem a finalidade de  identificar, armazenar e relacionar os aromas do vinho para aguçar a detecção dos pontos fortes e fracos do produto. São 46 tubos de acrílico, com uma estrutura no topo, através da qual os visitantes podem inalar as expressões mais freqüentes vinhos aromáticos. Aromas são divididos em primários (da fruta), secundário (originário da fermentação) e terciário (associado com o guarda e envelhecimento). Ao mesmo tempo, são agrupados em categorias florais, frutas, vegetais, lático, substância química, picante, animal, balsâmico e erros. Fragrâncias como mel, limão, morango, ameixa, amêndoa, hortelã, manteiga, baunilha, cedro, café, fumo, tomilho e anis. Ela também proporciona orientação para alertar os defeitos veio como odores fungo, vinagre e cortiça.


Após toda essa  aula sobre vinhos, fomos almoçar, aí veio uma das melhores surpresas da viagem... o restaurante dentro da vinícola é um verdadeiro 5 estrelas. Cada prato foi servido com um vinho diferente para degustação. Uma entrada de pão, queijo e azeite especial. Depois um tapa de pão com lingüiça e bolinho de pollo. Na seqüência uma trouxinha com massa fina e crocante recheado com um creme de abóbora. Depois veio o prato principal, um bife de chorizo que nem precisava de faca para ser cortado. A sobremesa foi algo mais especial ainda, principalmente pelo sorvete de casca de laranja, que desmanchava na boca. Hum, deu até fome!


Dali seguimos para a outra vinícola, uma das mais conhecidas, a Catena Zapata. Construída em forma de uma pirâmide Maia e ornamentada internamente com mármore travertino, madeiras nobres e pedras. Local muito agradável de bons vinhos.



Nesse dia nem jantamos, fácil de entender né...

TERÇA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2010
Mendoza – La Rioja
580km

Saímos cedo com destino a La Rioja, dia bastante quente.

Fomos no sentido a província de San Juan e passamos por uma vila muito peculiar, Difunta Correa. Esse nome é uma homenagem a uma mulher que morreu em circunstancias interessantes. Deolinda Correa foi uma mulher cujo marido doente, Clemente Bustos, foi recrutado forçadamente em 1840 para as guerras civis entre unitários e federais Argentinos. Deolinda com seu filho ainda em amamentação seguiu o marido pelo deserto para pedir sua libertação. Ela foi encontrada morta, mas com seu filho no colo vivo sendo alimentado pelo leite materno. Seu semblante de mãe era tranquilo e amável. Foi criado para ela um santuário na localidade de Vallecito, na província de San Juan.

Ali comemos um ótimo chivito e um pollo preparados numa barraca na rua. Muito bom, mesmo com as moscas incomodando e o calor escaldante. Uns quilômetros a frente passamos pelo Salar de Mascasin cuja pista passa bem ao lado.



Nesse dia como o calor era intenso eu estava com a manga da jaqueta aberta para dar uma ventilada, uma abelha entrou e fez um belo estrago, foi oito picadas ao todo. Engraçado foi que numa parada em umas das gendarmerias (policia militar argentina), aproveitei para tirar uma foto das diversas placas sobre as Malvinas, o guarda vindo, eu com a máquina na mão direita e a maldita abelha me picando braço esquerdo... parecia cena de filme.



Muito comum encontrar na estrada essas placas dizendo: As Malvinas são Argentinas. Para esclarecer: A Guerra das Malvinas  foi um conflito armado entre a Argentina e o Reino Unido ocorrido nas Ilhas Malvinas (Falklands), em 1982. Estes arquipélagos austrais foram tomados por força em 1833 pelo Reino Unido. A Argentina reclamou como parte integral e indivisível de seu território. O saldo final da guerra foi a recuperação do arquipélago pelo Reino Unido e a morte de 649 soldados argentinos, 255 britânicos e 3 civis das ilhas. Na Argentina, a derrota no conflito fortaleceu a queda da Junta militar que governava o país e que havia sucedido as outras juntas militares instaladas através do golpe de Estado de 1976 e a restauração da democracia como forma de governo. Por outro lado, a vitória no confronto permitiu ao governo conservador de Margaret Thatcher obter a vitória nas eleições de 1983.


Chegamos em La Rioja pelas 20h, ainda sol e calor. Conectei na internet para dar um beijo na família e depois fomos para a piscina. Cerveja Quilmes e um visual de tirar o fôlego de um pôr do sol com vista para as torres da bela Igreja.




A noite, os gulosos foram comer carne, pedimos uma parrilla, exageradamente grande. Noite pesada!

QUARTA-FEIRA, 8 DE DEZEMBRO DE 2010
La Rioja - Tafí del Valle
400km

O dia amanheceu bem fechado, sabíamos que viria água pela frente. Dito e feito. Era feriado e no caminho o movimento era intenso de peregrinos que iam até San Fernando Del Valle de Catamarca para orar pela Monera Virgem Del Valle. Passamos por centenas de motos pequenas na estrada, impressionante. Muita gente a pé e de bicicleta também.





A temperatura baixou bastante, principalmente na subida da Quebrada de Sosa, antes de Tafí Del Valle. Muito interessante, saímos de uma região onde a vegetação predominante é parecida com nosso cerrado, e na serra a vegetação é muito parecida com nossa mata atlântica, exuberante. A estrada é muito complicada, curvas iguais a serra do rio do rastro, mas com asfalto totalmente esburacado, além de trechos onde passa somente um veículo por vez.

Mas todo esforço sempre é recompensado: o Valle é realmente lindo. Na chegada tem um belo dique, La Angostura em El Mollar, que é muito usado para lazer. A cidade é simples, pequena, mas aconchegante. Sua beleza está na paisagem de todo a redondeza.





QUINTA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 2010
Tafí del Valle – Cafayate - Tafí del Valle
240km

Tafí del Valle fica a 2000m de altitude, para visitar Cafayate precisamos atravessar outra serra e chegamos até 3000m, a passagem é muito linda, campos  verdes, montanhas muito altas e campos de Cardones (cactos).  Só tinha um porém: a estrada... extremamente complicada, esburacada, trechos de terra, enfim, a pior... Depois da serra a estrada melhora.

No caminho resolvemos conhecer as ruínas de Quilmes, ótima decisão, pois o lugar é fantástico, muito místico. Para chegar lá pegamos uns 3km de estrada de terra com muitas costelas, muitas mesmo, e daquelas bem difíceis.













Os índios conhecidos como Quilmes, os primeiros habitantes deste lugar, eram cerca de 3000 no povoado e 10000 na região. Estes assentamentos existiram no século X d.c, atingindo um desenvolvimento sócio-cultural elevado e uma boa gestão do agro-pastoril e complexos sistemas de cultivo e irrigação. Este progresso constante foi interrompido apenas em 1667, quando os Quilmes sofreram a mais importante derrota militar nas mãos dos espanhóis, que envenenaram a fonte de abastecimento de água que vinha das montanhas.

Fomos até Cafayate, uma cidade muito agradável de colonização espanhola. Ótimos restaurantes e uma praça perfeita para uma cesta, depois de comermos Coejo, chivito, chorizo, pollo e tomar uma gelada cerveza.


Na volta paramos no Museo Pachamama em Amaicha do Valle, ele é uma homenagem aos Incas. O Museu é um resumo da imaginação e esforço de um grupo de estudiosos que valorizam a vida dos nativos e seus descendentes. O museu é composto de dois quartos de geologia, antropologia e outras duas salas onde tapeçarias, pinturas e esculturas estão expostas. O quintal é grande e possui enormes estátuas de pedra, representando divindades adorando Pachamama, repleto de  cardons e outras obras magníficas.









SEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2010
Tafí del Valle – Corrientes
860km

Saímos com o dia bonito, sol e poucas nuvens, e já de manhã cedo calor, nada perto do que nos esperava. Passamos novamente pela quebrada de Sosa mas agora em condições boas do tempo, então bem mais agradável. Aproveitamos para tirar várias fotos que não conseguimos na ida.

Em Santiago Del Estero o calor já era quase insuportável, numa das paradas um caminhoneiro brasileiro nos informou que na sombra estava 45 graus, na estrada de certo estava acima dos 50 graus, pois andamos muitos quilômetros sem absolutamente nenhuma nuvem. Em certo ponto estávamos realmente passando mal, assim tomamos o cuidado de diminuir os trajetos e nos hidratando muito. Ainda para complicar pegamos umas estradas bem estranhas, teve uma que tinha apenas um filete asfaltado no meio sendo o restante rípio.


Seguimos para Corrientes, torcendo para não pegarmos chuva, pois na direção víamos uma cumulus nimbuns com um aspecto assustador. Chuva com aquele calor seria o fim. Por sorte não pegamos água. Ao chegar no hotel o André reclamou de cheiro de ovo podre que vinha da moto dele, mas não constatamos nada.

SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010
Corrientes – Foz do Iguaçu
625km

O cheiro de ovo podre era a bateria da moto que tinha pifado. Resolvemos rápido o problema em uma casa de bateria, apenas 1h de atraso, normal.
Choveu muito no dia anterior pelas províncias de Corrientes e Missiones, pois passamos por áreas muito alagadas. Em posadas pudemos ver a antiga rodovia totalmente alagada e entendemos porque a construção da nova pista.

Apesar de não estar chovendo, a pista estava muito molhada e escorregadia. Passamos o único susto de toda a viagem, em um mesmo ponto da estrada a minha (Pietro) moto e a do José perderam aderência e as motos derraparam, a minha foi dançando na pista e acabei conseguindo controlar depois de muito esforço, a do José escorregou lateralmente numa curva, quase saindo pelo acostamento. Felizmente somente susto, baixamos a velocidade e continuamos.

Era o dia do José, pois a moto dele teve uma pane seca a 500m do posto, situação controlada de forma tranquila.


Perto da fronteira o céu limpou e um novo pôr do sol nos brindou na chegada ao Brasil. Chegamos em Foz do Iguaçu já a noite, bem cansados.

DOMINGO, 12 DE DEZEMBRO DE 2010
Foz do Iguaçu – Blumenau
890km

Volta é volta... sempre mais complicada, acho que devido a ansiedade de reencontrar os parentes e amigos. Eu  e o André saímos pelas 8h e tocamos direto para Blumenau, indo por Ponta Grossa.  Poucas e rápidas paradas e chegamos em Blumenau as 19h.
Pegamos chuva apenas a partir de Joinville, para variar.








Valeu a foto da chegada, depois de 8600km de uma viagem fascinante !!!



               
  Dia     Saida Chegada km km total
  1 26 sex Blumenau Joaçaba 316 316
  2 27 sab Joaçaba Corrientes 915 1231
  3 28 dom Corrientes S.S Jujuy 860 2091
  4 29 seg S.S Jujuy SPA 420 2511
  5 30 ter SPA Copiapo 870 3381
  6 1 qua Copiapo Valparaiso 780 4161
  7 2 qui Valparaiso Algaborro / Santiago 180 4341
  8 3 sex Santiago     4341
  9 4 sab Santiago Mendoza 360 4701
  10 5 dom Mendoza     4701
  11 6 seg Mendoza Aimogasta 690 5391
  12 7 ter Aimogasta Fiambala 160 5551
  12 7 ter Fiambala Paso de San Francisco 400 5951
  13 8 qua Fiambala Tafi del Valle 465 6416
  14 9 qui Tafi del Valle Santiago del Estero 240 6656
  15 10 sex Santiago del Estero Corrientes 625 7281
  16 11 sab Corrientes Foz 630 7911
  17 12 dom Foz Blumenau 800 8711
               




Não comemos para viver... vivemos para comer!























Algumas outras fotinhas...






O quase atropelamento...