"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

sábado, 21 de novembro de 2009

Uruguai e Argentina 2009

Esse relato foi escrito a várias mãos...

Saída: 21/11/2009 - 14h00
Chegada: 29/11/2009 - 01h30
Roteiro: Blumenau - Florianópolis - São Gabriel RS - Santana do Libramento RS - Colonia del Sacramento UR - Buenos Aires AR - Montevideo UR - Punta del Este UR - Chuí RS - Camaquã RS - Blumenau
Distância: 3350 km
Moto: Suzuki Boulevard M800

O início...

A ideia começou com o BOG Cadu postando no fórum (boulevardonline.net) que tinha idéia de ir em suas férias com o irmão Renato para Argentina de moto, e queria saber se mais alguém topava a aventura. Isso foi em 13/07/09. Como tínhamos um amigo e BOG morando lá, o Kajita, a ideia começou a ficar cada vez mais interessante.
Com toda sua experiência em viagens o BOG Bnu começou a sugerir roteiro, mesmo dizendo que provavelmente não poderia ir. Isso também aconteceu com os BOG Pietro e Dion que tinham ideia de apenas acompanhar um trecho da viagem.

Roteiro Final

Foram então 45 páginas de postagens com idéias até a coisa se tornar realidade que resultaram na aventura a seguir...


Moto na revisão para viagem

Os aventureiros...


André - Bnu
Suzuki Boulevard M800
Carlos - Cadu
Suzuki Boulevard M800
Dalmo - DF
Suzuki Boulevard M800
Dion Coca
Suzuki Boulevard M800
Eder
HD 883R
Junior Ribeiro
Suzuki Boulevard C1500
Mauricio
Suzuki Boulevard C1500
Pietro Paladini
Suzuki Boulevard M800
Renato
Suzuki V-strom DL650
Wandrey
Suzuki Boulevard C1500



Primeiro dia - 21/11

De Blumenau SC até Florianópolis - 130 km

Nos encontramos no Moto Café (Dion, Pietro e Wandrei) para sair pelas 14h, já tinha chuva fina nos perseguindo. Fomos até a casa do Bnu que ainda estava descansando do banquete do almoço com a família e tocamos para estrada até o posto combinado em Itajaí. BOG João Piava nos encontrou por lá e fomos até o outro ponto onde o pessoal de SP foi parar.

É claro que o pessoal de Sampa passou direto pelo trevo, pois não encontraram o tal posto, mas foi só um telefonema , e em 2 min. o pessoal veio ao nosso encontro.
Comboio formado maior, estrada de SC boa, já sem chuva, chegamos rapidinho em Floripa, e tiramos fotos no alto do morro da lagoa, depois seguimos para tomar um cafè na casa dos pais do Maurício.


Mirante em Floripa



A noite, confraternizamos num boteco a beira da lagoa, com direito a sequencia de frutos do mar e algumas geladas...


Depois no hotel, antes do descanso, uma breve conversa sobre os procedimentos de estrada, sobre a sequencia da viagem

Segundo dia - 22/11

De Florianópolis SC até São Gabriel RS - 785 km
Saímos bem cedo do hotel e fomos na beira da Lagoa da Conceição tirar fotos com nossas motos naquela paisagem linda, dia prometia ser agradável, pois o céu estava bem bonito.


Várias paradas para abastecimento e fotos. Destaque para a ponte em Laguna...

e o Parque Eólico em Osório RS.

Passamos pela Freeway, até Porto Alegre, onde encontramos o Eder, amigo do Renato ( tem uma Harley 883, mas é boa gente... ) , e seguimos rumo oeste. No caminho, parada num comércio de couros, onde comproi uma ovelha hehe um pelego que me ajudou demais, pois coloquei como encosto...


A noite se aproximava...


Tocamos até São Gabriel RS, paramos num posto, o proprietário também tinha um hotel, conversa vai conversa vem, estava resolvido o pernoite.

Terceiro dia - 23/11

De São Gabriel RS até Colonia del Sacramento Uruguai - 700km

Acordamos em São Gabriel com um lindo dia, até passamos protetor solar e nos preparamos para o calor.


A alegria durou pouco, no caminho para a fronteira o tempo já fechou, e pegamos um temporal daqueles logo depois de atravessar a fronteira em Santana do Livramento. Wandrei e Cadu sentiram até choque nas mãos em determinado momento de relâmpago.


Paramos num posto e aguardamos dar uma amansada.

Para nossa felicidade, alguns quilômetros a frente o céu abriu, azul e sem nuvens, acompanhado de uma magnífica paisagem formada pelos pampas uruguaios e uma formações interessantes, morros de topos retos.

Fomos seguindo com céu azul até o fim do dia.
Um parênteses: em Santana do Livramento paramos na concessionária da Suzuki Trilha motos, e fomos MUITO BEM atendidos. Pessoal gente fina, serviram café, chimarrão, nos deram camisetas, fizeram a revisão da moto do Renato. PARABÉNS a Trilha Motos !!!




Chegamos em Colonia del Sacramento já escuro, mas mesmo assim já pudemos ter uma ideia da beleza daquela antiga cidade portuguesa do século XVII, parece parada no tempo, as construções são magníficas.
Uma curiosidade: não é lei o uso de capacete. Imagina se os bobos não iam desfilar sem capacete... Todas cidades que chegávamos parecíamos circo, parava tudo para ver, bater fotos etc. No Uruguai e na Argentina não tem quase nenhuma moto de cilindrada alta, tudo até 150cc... então éramos atração.
A noite fomos comer uma parrila e outros tipos de carne, depois dormir. O hotel era bem legal e custou US$ 37,00 com café da manhã em quarto individual, uma pechincha.

Quarto dia - 24/11

De Colonia del Sacramento até Buenos Aires - 70km (buquebus)
Acordamos cedo para pegar o Buquebus, que atravessa o Rio da Plata até Buenos Aires Argentina.


Depois de comprarmos os tickets, fazermos imigração, aguardamos o embarque


Nos e os perros, na sombra,que tava um calorão


Dentro do buque, uma balsa gigante, com um grande espaço para automóveis e motos na parte inferior, as motos amarradas para a travessia de Rio de la Plata


No barco, freeshop, poltronas confortáveis, ar condicionado, televisão, lanchonete, legal. Custou aproximadamente R$ 200 para piloto + motocicleta.
Mais ou menos uma hora depois chegamos a Buenos Aires, desembarque, e tio Kajita nos esperando, todo almofadinha, tinha vindo do escritório.


Depois de fazer a entrada no hotel, que era agradável, apenas barulhento por causa da rua do centro, fomos almoçar. O Kajita nos levou num restaurante muito legal, estilo pirata, todo o ambiente lembrava um navio. A comida EXCELENTE!!! E barato, gastamos cerca de US$ 10,00.


Em seguida aproveitamos para conhecer o centro da cidade, a Rua Florida com muitas lojas, cafés e ambulantes. O centro é tudo muito parecido com SP, um pouco mais "europeu". Couro é muito barato e a comida também.
A noite fomos jantar no Puerto Madero, lugar lindo, um antigo porto que foi urbanizado e transformado em bairro da elite. Grande hotéis, restaurantes, parques etc etc. Mais um lugar que comemos super bem e barato.
Depois do jantar um sorvetinho ao lado del puente de la mujer 

Quinto dia - 25/11

Buenos Aires
Dormimos um pouco mais, pra descasar das emoções dos dias anteriores, tomamos café e em seguida fomos comprar os boletos para a volta ao Uruguay, novamente pelo buquebus.
O hotel Concorde fica a algumas quadras do porto, fomos caminhando, fazia um calor de rachar.
A compra não é muito rápida, tem que mostrar e registrar os documentos de passageiro e moto.
O lugar e bem interessante, parece o saguão de um aeroporto, ar condicionado, imensa parede de vidro com a Manhattan portenha ao fundo.


Compradas as passagens para o dia seguinte, resolvemos pegar o ônibus turístico, que percorre os pontos de interesse de BsAs, passa uma a cada meia hora, a gente tem o dia pra fazer o roteiro, pode saltar, visitar, e seguir no próximo. Caminhamos em direção a torre dos Ingleses, era perto, no caminho típicos assados argentinos.

O lugar do embarque era próximo, mas o transito estava um caos; manifestantes estavam interrompendo algumas ruas do centro, e chegamos a conclusão que ficaríamos engarrafados o dia inteiro no tal bus... Resolvemos então pegar o subte (metro), e visitar o Caminito, sugestão do Wandrei, e o adjacente estádio do Boca, La Bombonera.
Com o metro fomos até a estacão mais próxima, dali em 2 taxis até o Caminito.

Contraste no metro argentino


Já tinham me falado meio mal do lugar, mas achei muito agradável, as mesas no calçadão, estava cheio mas não muito, as casas antigas, as paredes de chapa metálica, coloridas, os shows de tango, a alma portenha pra turista ver.


Almoçamos num restaurante onde se apresentava um casal, acompanhados por violão e
acordeon, os bogs ficaram particularmente interessados na pérola no umbigo da dançarina e a tatuagem...
Algumas cervezas de litro depois, Wandrei subiu ao palco para a aula de tango.





Digerimos as carnes da parrilla numa caminhada até o estádio la Bombonera, palco de míticos embates na Libertadores; tem uma loja de souvenirs, estatua de Don Diego, fotos, e a visita as arquibancadas, da pra imaginar a fanática torcida jogando pilhas nos bambis do São Paulo, heheh... O lugar é tão interessante que tinha mais corintiano que "boquista"...




Finda a visita nos separamos, fomos pro hotel, descansar um cadinho, sabe como é, a idade... e depois fomos as compras, procurar umas lembrancinhas pra dona patroa, faz parte do processo de liberação dos futuros alvarás... Pietro, DF e Dion foram conhecer a rua onde tem lojas de motos, nenhuma novidade nem de preços.
Seguimos em 3 taxis pra Recoleta, Kajita nos levaria ao HardRock Cafe.
O taxista que nos levou é um ator (ex-ator ?), nos deu uma aula sobre história política e econômica da Argentina, sabia tudo também do Brasil, discorreu até sobre o México, perguntei até se ele era professor... figuraça.
No terraço do centro da Recoleta, um desfile de modas, modelos em trajes esvoaçantes (ui...) passeavam por ali, ah meus... 40 anos, kkkkk
Algumas compritas na loja do HardRock, dai a confraternização e o ótimo jantar, american way.
Depois da incursão na noite portenha, volvemos ao hotel, algumas horas de sono, amanhã de manhã cedo era dia de iniciar a volta pra casa.

Sexto Dia - 26/11

De Buenos Aires até Punta del Este - 320km

Esse foi um dia especial, pois conhecemos lugares realmente fantásticos.
Acordamos cedo em Buenos Aires e preparamos as motos, acertamos com o hotel e depois aguardando o pessoal terminar tudo, Pietro, Bnu e DF fomos tirar umas fotos com nossas motos na frente da Casa Rosada.


Depois juntamos todos e fomos para o Buquebus, que é a correria de sempre, filas enormes e burocracia até conseguirmos embarcar as máquinas. Ali nos despedimos do amigo Kajita, que sempre muito atencioso estava lá para nos saudar e filmar a partida.
Uma hora marolada e estávamos de novo em terra firme, em Colonia del Sacramento. Agora aproveitamos para tirar as fotos na bela cidade, pois na ida somente filmamos.




Uma curiosidade: tinha grupos de escolas visitando a cidade e todas usam aqueles notebooks bem simples oferecidos pelo governo, muito interessante.


Dali seguimos em direção a Montevideo para almoçar. É uma cidade muito interessante, mistura o antigo e o moderno. Algumas construções lembram Roma, outras "Gotham City".
Paramos para almoçar no Mercado do Porto onde foi tudo transformado em restaurantes. A comida já sabíamos que ia ser boa, alguns foram de parrilla, outros de carne e alguns de paella, tudo muito bom.



Passamos na praça central da cidade que tem um prédio que é algo incrível, muito grande e cheio de detalhes, coisa de filme do Batman.


Seguimos pela orla, que é belíssima, tem pequenas praias no caminho, avenidas bem largas e parques.


Rumo a Punta del Este onde iríamos pernoitar. A euforia tomou conta da turma quando chegamos, pois as paisagens foram de tirar o fôlego de todos. Logo na entrada subimos um morro numa pequena estradinha que levava a um mirante, que só mesmo o BOG Bnu para saber onde ficava. Belíssimo !!



Fomos em direção ao centro e deparamos na orla com um Pôr do sol digno de filmes "holiudianos".



Depois tocamos para o hotel que ficava na frente dessa vista "feia" aí embaixo...

Punta é "chique" !
Depois de instalados, voltamos a região do porto de iates, tem uns restaurantes muito bacanas, meio vazio pois era fora de temporada, mas deu pra ter uma ideia de como é aquilo em janeiro. 

Sétimo dia - 27/11

Saímos cedo de Punta del Este já com saudades, fomos margeando a orla e apreciando as belas mansões que tem naquela região.


Paramos na famosa escultura, o cartão-postal de Punta del Este é a obra do escultor chileno Mario Irarrazabal: La Mano. São dedos saindo da areia, cujo significado seria a “presença do homem surgindo na natureza”. Após algumas fotos seguimos aproveitando o cenário.


Foram vários quilômetros junto ao litoral, com o sol ainda baixo faiscando no mar azul.


Paramos também na Ponte La Barra, com suas duas "corcundas", paisagem linda em torno.



Próxima parada foi na Fortaleza Santa Tereza, Construída pelos espanhóis, perfeitamente conservada... um passeio no tempo. Fizemos a visita completa com direito até a cochilo de alguns BOGs e rolagem na grama de outro.




Tinha muitas crianças em excursão e a "maestra" que nos contou a história do forte. Deixou claro que o Uruguai foi sempre subjugado pelos dois grandes em volta: Brasil e Argentina.
O dia estava lindo com um belo sol.
Seguimos em direção ao Chuy / Chuí onde paramos para fazer umas "comprinhas" para agradar as patroas e crianças. Muito diferente de Santana do Libramento que é bem mais bonita e organizada. Chui é feio e sujo, mas o atendimento foi bom.


Passamos pela aduana onde um fiscal Brasileiro queria de qualquer jeito algum agrado para liberar nossa entrada no Uruguai... se ferrou pois dissemos que estávamos voltando.
Na sequência passamos pela linda reserva do Taim, onde capivaras, gaviões, pacas, tartarugas e muitas aves diversas ficam em perfeita tranquilidade as margens da pista.


Nossa pernoite foi em Camaquã RS onde chegamos depois de alguma garoa. Abastecemos, jantamos numa pizzaria simplezinha ali perto, e nos hospedamos num hotel próximo a rodovia, indicado por um pessoal que encontramos numa das paradas na estrada.

Oitavo dia - 28/11

Como sempre, para não fugir à regra, tudo que é bom acaba. Com uma certa tristeza no coração, agora não era mais o desconhecido que nos aguardava após a linha do horizonte, mas sim, a rotina de cada um estava lá, do outro lado da linha, de braços abertos, aguardando. Mas a rotina também tem o lado bom, uma vez que fazem parte dela todos os que amamos, nossos filhos, esposas, amigos, companheiros de trabalho...
Malas prontas, dinheiro já escasso, (pelo menos pra mim), muitas saudades de tudo e de todos, parecia mais que já se passava 01 mês, e não 01 semana. Em determinado momento, num posto para reabastecimento, lembro-me do CADU ter comentado: “ Que maravilha de viagem... Ainda bem que tudo deu certo para nós todos, nenhum acidente, nenhum defeito nas motos...” Imediatamente eu disse que ainda faltavam muitos km pela frente, para não relaxarmos na atenção em função de já estarmos nos sentindo em casa...
Saímos de Camaquã RS debaixo de chuva média, depois foi melhorando. Já perto de Porto Alegre o tempo melhorou bastante.


Resolvemos ir pela BR101 evitando a Estrada do Mar, por achar que o transito não estaria complicado e renderia mais. Bom, nos enganamos, pois as reformas da duplicação só atrapalharam e ainda pregaram uma triste peça. Aqueles calombos que se formam no meio da pista com o asfalto derretido.


Júnior estava a minha frente, uns 30 metros quando perdeu o controle da moto ao passar num calombo, quando a moto rabeou ele deve ter freado e a moto enviezou, ele tentou colocar o pé no chão o que fez fraturar a perna na altura da canela. A moto tombou e ambos deslizaram, por sorte, para a direita. Encostei rapidamente e corri para tirá-lo do meio da pista morrendo de medo que viesse um caminhão. 


Situação controlada, ambulância e polícia acionados, seguimos viagem para cidade mais próxima em condições de atender o amigo.
Havíamos nos preparado para uma situação como esta. Caso isto ou algo semelhante viesse à acontecer, havíamos combinado de por o companheiro em segurança e somente após isto, seguir viagem. Era o combinado. Mas esta turma é especial. Ninguém haveria de permanecer tranqüilo sabendo que um de nós havia ficado só. Foi quando de maneira firme, decisiva, o André se prontificou a acompanhar o Ribeiro até que o mesmo estivesse 100% encaminhado pelos médicos. Para isso teria que pernoitar em Torres. 



Eu, Dion e Wandrei rodamos até Blumenau onde chegamos já no dia 29 de novembro, meu aniversário, PRESENTÃO !!!