Unir o útil ao agradável, sempre que possível, trabalho e moto !
Abril foi o mês do XIII Congresso de Fomento Comercial que somos patrocinadores, em Foz do Iguaçu PR nesse ano, e sempre que consigo vou de moto nesses eventos da empresa. Mas só se deslocar para o trabalho seria desperdício, então tratei de incluir algo mais interessante no caminho.
Cerca de um mês atrás mapeei umas 50 estações das antigas linhas ferroviárias que passavam por SC, em três troncos ferroviários.
Antigas estações ferroviárias de SC
- Maio/16 - EFSC de Blumenau a São João - Clique aqui para ler
- Julho/16 - EFSC de Blumenau a Itajaí - Clique aqui para ler
Um desses troncos é o da RVPSC - Rede Viária Paraná Santa Catarina, que segue do litoral sentido oeste, exatamente na direção de Foz... pronto, era o que eu precisava.
Segunda de manhã resolvi e encaminhei minhas coisas na empresa, o evento foi de quarta a sábado, inicialmente iria sair na terça, mas... almocei com a família, arrumei as coisas e saí no início da tarde. Fiz bem pois se não tivesse feito isso não teria conseguido visitar todos os pontos.
Tudo programado no GPS e lá fui eu ! Muitas dúvidas, pois vários locais eram com acesso em terra, a moto com bauletos laterais carregados não são ideais para essas aventuras, não sabendo que tipo de caminhos iria encontrar.
Saí de Blumenau e passei por uma antiga construção da EFSC - Estrada de Ferro Santa Catarina, de 1909.
Blumenau SC
Segui rumo a Guaramirim onde visitei a primeira estação da RVPSC do meu roteiro, a Estação Guaramirim (1910). Hoje está sendo utilizada como rodoviária e também sede do departamento de transito local. Lá conversei com a Juliane que me explicou sobre o local.
Estação Guaramirim
O próximo ponto de parada foi a Estação Jaraguá do Sul (1913). Não consegui boas fotos pois a mesma fica bem no centro, local complicado para estacionar.
Estação Jaraguá do Sul
Construída em 1913 funcionou como estação ferroviária e depósito de cargas até 1943. Quando as operações de passageiros passaram para a nova estação, esta edificação passou a operar somente como depósito de cargas, sendo considerado na época, o maior depósito ferroviário do Estado. Nos anos de 1990 abrigou o Museu do Expedicionário; foi tombada pela Fundação Catarinense de Cultura - FCC em 1998. Restaurada em 2008, atualmente abriga a Biblioteca Pública Municipal “Rui Barbosa”.
Em Corupá um prédio da estação está sendo bem conservado e utilizado. Fica anexa a estação a ALL - América Latina Logística. Não encontrei referências sobre essa Estação Corupá.
Corupá SC
Destaque pro calor, 37 graus !
Até aqui estava um passeio tranquilo, sem muitas emoções, mas aí, já no topo da serra que liga Corupá a São Bento do Sul, umas 16h e 500m de altitude, o GPS me manda entrar numa estrada de terra rumo a Estação Rio Natal (1913). Aí veio o dilema...
Sabia que a estrada não seria fácil, descida de serra em estrada de terra, muitas pedras soltas, escurecendo, local sem nenhuma habitação, e nem sinal de celular.
Entrei na estrada com cautela e assim fui seguindo, alguns trechos bem ruins, mas no geral aceitável. Essa moto é do kar%&$o, muito na mão, em nenhum momento perdi a frente, nem grandes derrapagens, muito mais fácil de levar que o 800GS, mesmo com os pneus Anakee3 já com 15mil km.
O lugar é muito lindo, o trilho do trem vai cortando alguns pontos, rio, pontes e tudo mais que eu tinha direito.
Cheguei na estação e Pah... a mais feinha de todas hehe Mas o trajeto valeu tudo.
Estação Rio Natal
Minha primeira ideia era voltar pela mesma estrada, sabia que seria uma subida árdua. Aí cruzei com um casal de carro, fiz sinal e o mesmo parou, um senhor mais velho muito simpático, me disse para seguir para São Bento do Sul pela outra estrada, que estava boa e que era melhor. Assim fiz e mais uma vez me dei bem.
A estrada serpenteava a linha férrea, cruzando várias vezes ela. A topografia e paisagem de tirar o folego, isso tudo já ao entardecer. Tudo vale a pena quando criamos coragem para enfrentar o desconhecido !
Antes de procurar um hotel, pois já era mais de 17h, ainda visitei a Estação Serra Alta, essa toda fechada com tapumes, creio que para início de restaurações, tomara.
Estação Serra Alta
Mas as surpresas do dia não pararam por aí não. Perguntei e um posto onde tinha um bom hotel e me indicaram o Hotel Stelter. Prédio de 1919, paixão a primeira vista.
O hotel tem dois prédios um construído em 1919 e o outro na década de 60. A família Stelter que gerencia a três gerações desde a década de 40 quando vieram da Alemanha para o Brasil e compraram o hotel. Tudo novo e perfeito, decoração idêntica aos hotéis alpinos, muito bom gosto. Atendimento de primeira e café da manhã farto e diferenciado. Sem exagero, um dos melhores hotéis que fiquei no Brasil.
A moto ficou estacionada (por insistência do simpático Júlio, que trabalha por lá a 16 anos) no porão do hotel, um labirinto no tempo, paredes grossas de pedra e barro, corredores e escada que levava a um rio que passava abaixo do prédio (hoje fechado por causa das enchentes).
Fui jantar em uma pizzaria poucos metros do hotel, um ótimo rodízio com mesa farta de queijos variados. Tomei uma Saint Bier Bock pra harmonizar.
Na terça de manhã, com agradáveis 18 graus (altitude 840 m.a.n.m) fui pra Rio Negrinho, pelo que percebi a Estação Rio Negrinho (1913) que visitei é onde sai e também é feito a manutenção do trem turístico da Maria fumaça que vai até São Bento do Sul.
Próxima parada Estação Major Valentim (1963 até 1978), totalmente abandonada, feia.
Estação Major Valentim
Na Estação Mafra (1913), totalmente modificada e hoje utilizada como prédio do conselho tutelar e apoio ao trabalhador, dois rapazes que auxiliavam a manutenção do local, acho que Alisson e Jonathan, me falaram um pouco sobre a estação. Algumas fotos e segui.
Estação Mafra
Em Papanduva fica a Estação Capitão Soter (1963), poucos metros por terra fora da estrada principal.
Estação Capitão Soter
O outro lado da moeda nem sempre é legal, não foi ali.
Deixei a moto ao lado do trilho do trem, cerca de 300m da estação abandonada e fui andando para tirar umas fotos. Na volta, vi de longe um cachorro branco, bem no meio do trilho do trem, uns metros antes de onde estava a moto. Ficou parado só me olhando... fui caminhando e chegando mais perto pude ver que se tratava e um perdigueiro, coitado estava pele e osso, com um olhar triste mas de algum modo sereno. Nessa hora é que me complicou, pois de moto não poderia levar, nem comida eu tinha comigo, nada.
Não o chamei para não criar falsas esperanças no bichinho... saí dali tão cabisbaixo quanto ele.
No Distrito de Marcílio Dias, município de Canoinhas, visitei a antiga Estação Marcílio Dias (1913). Estacionei a moto no prédio abandonado que avistei as margens do trilho, certo de que era a antiga estação. Um morador me abordou, Itamar, disse que morava na casa ao lado de mais de 100 anos e relatou que a estação será reformada para uso de trem turístico. Me falou também que o antigo prédio que servia de restaurante também será reformado, Mas ele não foi muito claro nas explicações e percebi isso na pesquisa para escrever esse relato. Me enganei de prédio e tirei foto de uma construção ao lado que devia ser usada pelo complexo, a estação mesmo tirei foto só dos fundos ao lado do restaurante. Mesmo assim valeu, mas em uma próxima passagem da região irei complementar as fotos.
Fundos da Estação Marcílio Dias, e no final prédio do antigo restaurante
A Estação Três Barra (1913) no município de Três Barras logo ao lado de Canoinhas, hoje abriga um museu muito bem organizado. A Sra. Zeni que me atendeu foi muito simpática e me apresentou o local. Umas das mais bem preservadas estações que visitei.
Uma coisa que me chamou atenção, ou não, é que em qualquer lugar que parava para olhar o GPS e me organizar no caminho alguém parava pra me perguntar se precisava de ajuda. Moto é isso, cativa!
Já com fome, no caminho parei em um restaurante tropeiro bem típico gaúcho, comida tropeira de fogão a lenha e ambiente muito agradável. Destaque para o fogo de chão aceso a 13 anos.
Uns 60km a frente em Irineópolis visitei a Estação Valões (1917), essa também abandonada, apesar de ainda estar em bom estado de conservação.
Em Porto União a Estação Lança (1917) encontra-se totalmente abandonada e destruída. Já a Vila dos Ferroviários em anexo está conservada pois é utilizada como moradias pelas famílias dali.
Estação Lança
Logo ali perto, cerca de 20km já era a Estação Engenheiro Eugênio de Mello (1950) também anexa a uma vila dos ferroviários. Logo que cheguei fui abordado por um dos moradores, o Michel. Ele me contou que seu sogro foi funcionário da empresa ferroviária e era administrador da vila. Anos atrás em uma das enchentes da região a empresa da época cedeu as casas para os desabrigados que estão lá até hoje. O Michel é o guardião do lugar, cuida para que tudo fique organizado e sem baderna. Faz um bom trabalho pois está tudo muito bonito, sem pichações, sem sujeira, Parabéns !
Perto da estação tem alguns túneis da linha, de longe tirei foto de um deles, os outros fica para uma próxima visita com mais tempo.
Assim acabaram as visitas as estações, foram 15 pontos históricos. Curti demais e vou fazer os outros troncos da ferrovia.
Mas a viagem não acabou não... seguindo em direção a Palma PR, a estrada fica bem em cima da divisa do estado de SC com PR, ali tem uma gigante usina eólica, pelo que pesquisei a maior do Brasil. Ela é formado pelo encontro de duas unidades, a de Água Doce (SC) e de Palmas (PR), mais de uma centena de aerogeradores, lindo demais de se ver. Ali a altitude é de cerca de 1300m, venta muito, por isso creio que os geradores são bem mais baixos do que os vistos na usina de Osório RS.
Cheguei em Palmas pelas 17h e fui procurar um hotel, o escolhido foi o Ancelf Park Hotel, bem no centro, valor acessível, confortável e boa internet. Tomei um banho e depois fui jantar.
Outra boa surpresa: Restaurante La Bella Itália. Quando cheguei estava fechado, abria as 19h. Bati na janela e uma moça me atendeu informando que abriria a seguir que eu já poderia entrar. Fiquei observando o prédio e logo vi que se tratava de uma edificação estilo Enxaimel alemão, original, pois o madeiramento era numerado.
Pedi uma deliciosa truta, especialidade da casa, acompanhada de uma cerveja artesanal Insana Witibier, que harmonizou muito bem. Já conhecia a Insana, mas nem imaginava que era dali de Palmas.
Depois de jantar fui conversar com a dona do restaurante, ela comentou que o único registro da casa data de 130 anos atrás, uma foto de antes da guerra do contestado, e ela já estava construída.
Quarta saí cedinho novamente, tinha ainda 470km até Foz e o Congresso iniciava naquele dia a noite. Segui por umas estradas ainda não rodadas (adoro isso) e sempre tem surpresa no caminho. Em Saudade do Iguaçu fica a Usina Salto Santiago. A estrada passa ao lado dela e mais a frente tem um mirante com uma vista espetacular.
Cheguei em Foz umas 13h e na correria ao sair da moto esqueci de desligar o farol de led (está ligado direto na bateria, coisa que já vou resolver na próxima manutenção). Só vi isso a noite... claro, bateria arriou. Mas aí meu amigo Renato, mecânico da BMW por whats já me deu a dica, fazer chupeta da bateria com o carro desligado. O hotel mesmo tinha uma cabo e o Carlos parceiro de negócios de Curitiba me ajudou emprestando o carro dele. Tudo resolvido em 15 minutos.
O evento foi ótimo, o hotel muito bom, Bourbon Cataratas. Palestras muito interessantes, principalmente a Ética nos Negócios - Procurador da República e Coordenador da Força Tarefa na Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol.
Na quinta a noite fomos jantar em Puerto Iguazu, A Piacere Restaurant, muito bom, pedi um Baby Beef de 600 gr, dava pra cortar somente no garfo. Pra acompanhar cerveja Patagonia amber lager, boa demais.
No sábado o retorno ! A previsão errou, graças, era previsto uma chuva forte bem as 6h ali em Foz, mas depois no caminho era seco e em Blumenau chuva fraca. Não choveu nem e Foz e nem em lugar nenhum, sol, calor e boa estrada. Saí 7h, logo quando clareou um pouco. Segui pela Br 277 mesmo, apesar de não gostar dela, muitos pedágios (mais de 50,00 de moto), mesmo sendo sábado caminhões. Mas até que não posso reclamar, estava boa, andei bem. Cheguei em casa as 17h, ainda claro, cansado e contente por tudo ter dado certo, sem nenhum susto, sem risco, só alegria !
Total de 2000 km.
Vai uma dica, use o Serviço de Atendimento ao Usuário, SAU das rodovias com pedágio. Fácil estacionamento, banheiro limpo, água, café (bem gostoso) e alguns com wifi. Sem custo adicional, afinal já pagamos um valor considerável no pedágio. Costumo fazer uma parada rápida de 5min intercalando a parada de abastecimento (cerca de 220km).
Como complemento, dois pontos ferroviários próximos que visitei em outros passeios:
Ponto ferroviária convertida para rodoviária, na PR427 entre Lapa e Campo Tenente. Relato Marechal Cândido Rondon - Brazil Riders
Estação Poço Preto (1921), fica em Porto União. Pertenceu a C.E.F São Paulo-Rio Grande (1921-1942), Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (1942-1975) e por fim a RFFSA (1975-1996)
Relato Foz do Iguaçu - Brazil Riders