Primeiro fiz umas pesquisas de roteiros em terra pela região de Pomerode, principalmente procurando morros. Encontrei três, Morro Azul (pertence a cidade de Timbó, vizinha a Pomerode), Morro da Turquia e Morro do Schmidt ou Schmidtsberg, esses dois últimos de Pomerode. Nessa procura esbarrei com um mapa da rota Enxaimel que me chamou atenção. Pronto, estava desenhada a próxima traquinagem.
Falei com o Bnu que estaria livre e ele logo topou ir junto. Adicionei no GPS a rota e enviei ao Bnu, marcando para sábado pelas 9h a saída, com previsão de céu azul, Sol e frio.
Pegamos a rua Bahia e tocamos até Indaial, por dentro, para fugir da BR470, retornamos poucos quilômetros até uma rua de terra que daria diretamente no morro Azul, decisão perfeita pois o trajeto é lindo demais. Voltamos alguns bons anos ao passado naquele percurso, pois parece que o tempo parou por ali. Colonial, rústico, perfeito...
Ali estávamos entre Timbó e Pomerode, colonização mais alemã, mas com alguns gringos (italianos) no meio. As primeiras casas antigas, algumas Enxaimel começaram a aparecer pelo caminho, ali não muito conservadas.
Vamos falar um pouco das construções Enxaimel. Totalmente artesanal, o modo de construção começa pelo esqueleto feito em madeira, com vigas encaixadas na horizontal e vertical. Elas são sustentadas e travadas por vigas diagonais, que, esteticamente, dão um charme a mais na arquitetura depois de finalizada. O mais interessante é que tudo isso é construído sem pregos, somente com encaixes e pinos de madeira.
Assim foi o caminho, casas na beira de pequenos riachos, lagos, plantações, gados. Fomos subindo devagar, passando pelas "tifas".
A expressãoTiefe (profundeza, abismo, fundo) é indicativa de assentamento colonial em área distante de qualquer Stadtplatz. Na linguagem coloquial teuto-brasileira usa-se a corruptela "tifa", lugar mais próximo das profundezas da natureza do que da civilização.
Numa esquina uma Igreja azul, provavelmente bem antiga, uma pena que ao lado construíram um galpão de caletão e cimento cru, destoando completamente. Seguimos morro acima até chegar ao Morro Azul, nome dado pois na primavera o caminho é todo florido de hortênsias azuis. A vista lá de cima valia já todo o passeio. Vê-se Pomerode, Blumenau, Indaial e acho que outras vizinhas. De frente vimos o morro do cachorro (nosso passeio anterior) e ao lado (quilômetros adiante) o morro do baú.
Ficamos contemplando aquela maravilha de lugar algum tempo. Recebi a ligação do Thiago que nos encontraria na Torten Paradise para almoçarmos e nos acompanhar no resto do passeio.
750m abaixo seguimos para o centro, e depois de um delicioso almoço típico alemão, seguido de um Appelstrudel, tocamos os três até o morro da Turquia, 450m acima. A vista não é tão impressionante quanto o Azul, mas teu seu charme por ser mais perto do centro e se poder ver tudo bem próximo. Esse caminho não existe no tracksorce então gravei no GPS para enviar e ajudar a completar o mapa. Subimos por uma estrada e descemos pela outra.
Dali seguimos em direção a rota Enxaimel e também onde fica a casa do amigo Thiago, mora muito bem hein! Paramos em um grande galpão Enxaimel onde funcionava um salão de festas onde os pais do Thiago fizeram a festa de casamento, estava fechado mas mesmo assim fácil de apreciar sua beleza.
Quase no final da rua Testo Alto a direita subimos numa pequena rua e no final uma bela casa de 1932, Enxaimel claro... Dois moços roçavam a grama, Thiago perguntou se pedíamos tirar fotos e fomos logo convidados a ficar a vontade.
Bucólico é quase pouco para expressar aquele local, sorte termos muitas fotos para facilitar. Contrariando o que muitos dizem sobre os alemães serem fechados, de pouca conversa, fomos recebidos com muito carinho por todos. Fizeram questão que entrássemos na casa para ver as fotos, móveis e arquitetura. A dona da casa uma senhora de 80 anos veio da cozinha nos cumprimentar com um sorriso cativante, orgulhosa.
Lá fora ranchos que denunciavam sua longa idade contrastavam com o fundo verde do campo, mas dois tachos de água fervendo na lenha nos chamaram atenção. Nos que dali a pouco estaria chegando um senhor para abater o porco. Fomos conhecer os animais da casa: vacas, coelhos, carneiros, patos e porcos.
Sinceramente a vontade era de não ir embora, mas o tempo urgia. Continuamos a rota até a Pousada Wachholz que é a casa mais antiga de Pomerode, 1867. Novamente muito bem recebidos pela proprietária, da família, parentes mais distantes do Thiago. Muito peculiar são as conversas em dialeto alemão, Parabéns ao Thiago por preservar essa importante tradição cultural.
Gottes Ruhm und Frieden sei unserm Haus beschieden
(Gloria e paz de Deus seja concedida a nossa casa)
Wo Liebe da Frieden, wo Eintracht da Gott
(Onde (existe) amor, (existe) paz; onde (existe) concórdia, (existe) Deus)